quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Das pessoas que já cá não estão

Eu, pecadora, aqui me confesso. Vi quase todos os episódios daquele programa da TVi, com aquela senhora que vê e fala com os mortos. ( E com isto perdi metade dos meus inúmeros leitores.)
Anyway... mais assustador do que ver, é chorar quando vejo. Aquela bosta mexe comigo, pronto! Chamem-lhe poder de sugestão, balelas, tretas, enfim. Mas eu desfaço-me em lágrimas e dou por mim a pensar "e se...?".
Há coisas que eu até posso admitir que sejam combinadas, mas há outras que não vejo como. Num programa, foi lá a mãe de um pescador que morreu no mar e tudo o que a senhora queria era saber se o filho tinha sofrido, porque ela estava convicta que ele não morrera afogado. Ora, mais uma vez perdoem a inocência, mas custa-me a crer que uma mãe em sofrimento se submeta a ser "subornada".
E se fosse comigo?
O meu avô paterno morreu antes de eu nascer, portanto não seria a minha primeira opção, dada a falta de convivência. Já com o meu avô materno, a história é outra... O meu avô Zé Luís morreu quando eu tinha 10 anos, mas não há tempo que passe que mo faça esquecer. Lembro-me da voz dele, que me chamava Nina, do bigode farto, grisalho, de pontas amarelas e das unhas amareladas pelos muitos cigarros de um só dia. Lembro-me da gargalhada dele e do som da muleta quando se aproximava. E o boné... Todos os dias, desde que se levantava até ir dormir, aquele boné cinzento e azul, aos quadradinhos. Dos 4 aos 6 anos, passei os dias em casa dos meus avós, dormia a sesta com ele e ia ao café buscar gelados para os dois. Era "acusada" pelas minhas primas mais velhas de ser a favorita, a menina querida. Ao lado dele, fui buscar os olhos claros, a postura altiva e, quero acreditar, a inocência de querer que todos se dêem bem. Um dia antes de morrer, perguntou à minha tia por mim e ela disse-lhe "Vem amanhã".
Depois há o P. Um amigo, um quase irmão que deixou um vazio há 7 anos. No fim-de-semana trocamos sms, ele a dizer que se sentia melhor e eu a dizer que no fim-de-semana seguinte ia visitá-lo, mas ele só aguentou até ao dia seguinte. Durante anos, guardei a ultima sms que trocamos e uma mágoa por não o ter visto naquela altura.
A minha avó paterna era uma típica mulher nortenha, de gancho, espevitada. Lembro-me dela sempre com o cabelo branco, apanhado, olhos muito azuis, alta. Linda, quando era nova. Teve uma vida "acidentada", viuva muito cedo, com dois filhos pequenos, voltou a casar com o meu avô, quase 20 anos mais velho, também ele já com filhos de um casamento anterior. Daí vieram mais quatro filhos, sendo que da ultima vez que esteve grávida, a filha mais velha também estava. Muitas estórias depois, um AVC deixou-a num estado quase vegetativo e, ao fim de seis meses não resistiu. Vi-lhe a cabeça pender para o lado e soube.
Portanto, não posso deixar de pensar "e se fosse comigo? sujeitava-me a ir lá e saber se alguém tinha alguma coisa para me dizer? E se sim, acreditava?" E depois de pensar nisso, acho que sim. Porque acredito que há mais (tem de haver) além disto.
But then again, it´s just me.

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