Desde miúda que sou assaltada por pensamentos sombrios; quando tinha 5 anos fui mesmo acompanhada por um psicólogo porque os meus pais se viram um tanto ao quanto aflitos quando a minha preocupação fundamental não era qual o vestido que a Barbie ia usar mas sim "quem é que fica comigo se tu e o pai morrerem?".
A verdade é que, à medida que fui crescendo, ganhei um novo entendimento da coisa, mas não deixei de reflectir no tema. Acho que isso me deu um certo "à vontade" perante o conceito de morte. O que não quer dizer, nem por um segundo, que encare bem a partida de alguém. Gosto é de pensar que é uma coisa natural, que todos temos como garantida e, perferencialmente, já num ponto bem maduro da nossa vida.
A morte dos velhos
Aos 18 anos vivi a primeira revolta. Perdi o Paulo, vítima de um linfoma que não lhe deu chances, que o maltratou durante quase um ano, que não o deixou chegar aos 20. E anos depois a morte da minha avó, vítima dos seus 86 anos e, talvez por isso, nada revoltante, nenhum sentimento de injustiça. E será assim quando chegar a vez da minha velha de cabelos cinza, agarrada a uma Alzheimer que lhe consome as forças, que lhe suga as palavras, que a (nos) faz sofer.
Mas ultimamente, talvez fruto de uma sucessão infeliz de mortes trágicas e inesperadas de pessoas mais ou menos conhecidas, dou por mim a navegar de novo por esses velhos caminhos... o medo. Medo de perder os que amo, os que me são vitais: pais, amigos, namorado, família. Medo de receber más notícias, medo de proporcionar-lhes uma má notícia.
O perigo é brutal e a vida tão frágil...
É por isso que sou adepta dos pequenos luxos: bons restaurantes, viagens, hoteis. Limitarmo-nos ao quotidiano não nos traz prazer, não nos deixa com aquela sensação de leveza e com aquele sorriso "isto sim, é viver."