quinta-feira, 15 de novembro de 2012

E quando menos se espera


...alguém grita por ajuda, por socorro, num tom de desespero quase palpável. E tu, corres. Tu ajudas (ou tentas ajudar). E o cenário que encontras é feio, é estranho, surreal.

Munes-te de uma força que desconhecias, de uma coragem quase heróica, de um pico de adrenalina vindo não sabes de onde. E, inexplicavelmente, ao mesmo tempo, és capaz de raciocinar com clareza, de saber o que fazer - por instantes, agradeces as muitas horas passadas a ver CSI e afins - e vês-te num plano que não é o teu.

Chamam-se Bombeiros, o INEM; reúnem-se vizinhos, curiosos, familiares. E tu ali, alheio a tudo, a seguir os teus instintos e a tentar perceber o desfecho. Dás por ti a falar com a pessoa prostrada no chão, numa tentativa quase inocente de a manter acordada. Vês-te reflectido naqueles olhos, sentes-lhe a respiração ofegante e sentes o peso dos olhos de quem assiste.

E quando menos se espera... alguém te morre nas mãos.
E quando se pronunciam as palavras fatais, há gritos. Há revolta. Há raiva, ódio, dor.

E tu não sentes nada, porque a adrenalina não deixa. Sais dali, mas não és tu. Só regressas a ti, só te permites sentir, quando a realidade te dá um murro. E choras por uma pessoa que não conheces, pelos filhos que ficam sem mãe, pelo homem que fica sem mulher.

Choras por ti, pela força que tão depressa veio como foi, pela imagem que não te sai da cabeça, pelo cheiro que te ficou entranhado nas narinas, pelo sangue que ainda tens nas mãos.
Choras pela fragilidade da vida, pela estupidez da morte. Choras porque, inevitavelmente, pensas que podias ser tu ou um dos teus. Até aqui o egoismo dá as caras.